Nicholas Roerich

1. DADOS GERAIS

Nasceu em S. Petersburgo (Rússia), em 09/10/1874.
Seu pai era um famoso advogado e Nicholas foi criado em uma propriedade da família que, curiosamente, se chamava Tsvara, uma palavra sânscrita que significa Ashram, ou morada Sagrada.
Naquele tempo, já havia uma certa orientação para o misticismo oriental.
Foi educado em S. Petersburgo. Em 1893, freqüentou simultaneamente a Universidade de Direito e a Academia de Belas Artes.
Costumava caminhar com uma pá, cavando aqui e ali, e voltar com antigos artefatos que ele ligava aos seus ancestrais e aos antigos habitantes daquela região.
Sempre teve interesse pelo seu passado, pela herança do povo russo.
Artista, arqueólogo, explorador, escritor, pan-humanista, filósofo, poeta, educador, um amigo de reis, imperadores, presidentes e eremitas, do mais baixo ao mais alto.
Como artista, mostrou um estilo anterior de pintura executada a óleo. Mais tarde ele quase que trabalhou exclusivamente com têmpera.
Morreu em 13/12/1947, no Vale Kulu – Himalia.

2. A ARTE E A HERANÇA PARA A HUMANIDADE

  • Aqueles que chegam, pela 1ª vez, ao Museu Röerich – N.Y são surpreendidos pela cor, beleza e vibração das pinturas. Alguns podem não gostar do estilo, em particular, mas há algo sobre sua consistência e o ponto de vista do artista que é inegável e os leva a pensar sobre quem esse homem era?
  • No Museu Röerich – existe uma parte muito pequena dos mais de 7.000 quadros que N.R criou durante sua vida.
  • Röerich criou seu próprio estilo.
  • Em sua obra, chama a atenção, uma singular espécie de propósito e aspiração.

Ex. Quadros do período “himalaio”, vemos essa aspiração expressar uma espiritualidade com a do próprio homem e com a própria aspiração do homem em aperfeiçoar-se.

  • As muitas fases de sua criatividade nos trazem não só a imagem de um artista, mas, também as imagens de um filósofo, cientista, arqueólogo, escritor, criador de projetos humanitários, um intérprete de nossa época e viajante – explorador das mais inacessíveis regiões da Ásia Central.
  • Sua atividade para promover a arte abrangia o mundo inteiro.

2.1. INFLUÊNCIA NA ARTE BRASILEIRA BUSCANDO SEU DESENVOLVIMENTO

  • Na 3ª década do século XX, sob a pressão da resposta das repúblicas da América latina às idéias de Nicholas Röerich, uma série de exposições foi apresentada pelos curadores do Museu de Röerich nos países da América do Sul

– Trinta e nove pinturas de Röerich permaneceram em exposição em seus maiores museus durante o período de um ano.

  • No Brasil, na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, foram apresentados os seguintes quadros: “Palácio de Sadko”, “Língua da Floresta”, duas pinturas de “Santa Fé” (Novo México), “Cadeias de Montanhas” e “Ladak” (Tibet).
  • Com o propósito de promover a unidade cultural das Américas, o Museu Röerich. (N. Y) encarregou Miss Francis R. Grant de visitar as Repúblicas Latino-Americanas com o objetivo de estimular os meios de intercâmbio cultural.

Durante sua visita, ela fez:

  • Conferência na Embaixada Americana no Rio de Janeiro, na inauguração da Exposição de Quadros Emprestados do professor N. R, no Colégio Bennett, na Sociedade de Afirmação da Mulher Brasileira, na Associação Educativa do Brasil, nas duas Sociedades Brasileiras de Filosofia.
  • Fez conferências em várias escolas, colégios grupos artísticos, associações de arquitetos e outros grupos culturais.
  • Artigos apareceram na imprensa, sobre a atividade artística de Nicholas: no “Correio da Manhã”, “Jornal do Comércio”, “Jornal do Brasil” e “Diário da Noite”.

2.2. SUAS OBRAS

  • Em 1897, pouco antes de deixar a Academia de Artes, ele pintou um quadro agora célebre, “O mensageiro”, do qual há uma reprodução no Museu.
  • Esta obra foi adquirida por um senhor  Tretyakov.Um grande patrono das artes em Moscou – e posto em sua coleção particular, que é agora conhecida como a Galeria Tretyakov – um dos grandes museus da Rússia.
  • Em 1902 – 1904, Röerich fez uma longa excursão pela Rússia. Foi uma viagem de descobertas, pois para onde ia, encontrava os antigos artefatos e ruínas que para ele representavam a herança nacional.
  • Como um arqueólogo, ele avaliava o que poderiam simbolizar para a Rússia e ele sabia de sua importância para os estudantes de Arqueologia e da história da humanidade! Röerich estava determinado a tê-los preservados e propriamente cuidados.
  • Röerich, também pintava murais. Em 1907, ele completou um belo e imenso mural na Catedral do Espírito Santo em Talashkino, perto de Smoleusk (hoje restaurada, depois da parcial destruição pela guerra) e um mural para as ferrovias kozan em Moscou.
  • Em 1909 – 1910, no verão desses anos, Röerich visitou a Itália, Alemanha, Holanda e Inglaterra e fez uma “tournée” por esses países. Foi nesse tempo que ele preparou para Diaghilev quadros para o “Príncipe Igor”.
  • Ao mesmo tempo, fez exposição em Paris, Londres, Bruxelas, Roma e Zurich. Seu trabalho se tornou mais bem conhecido e foi recebido por muitos dos maiores museus daqueles países.
  • Começando com o “Príncipe Igor” (ópera), ele fez uma grande carreira como coreógrafo, uma carreira que nas vidas de muitos homens já seria suficiente para satisfazê-los, mas na vida de Röerich, um homem de tantas facetas é apenas um pequeno aspecto.
  • Desenhou cenários para “Peer Gynt”, “Princesa Maleine”, para o Teatro de Arte de Moscou e também para “Tritão e Isolda”, e várias óperas de Rinsky – Korsakov. Ele fez estes cenários ao tempo em que Benois, Bakst, Natalie Gontcharova e Picasso desenhavam para Diaghilev.
  • Nesse período, ele fez o que se tornou seu mais famoso quadro para o teatro, as decorações e costumes para o bailado de Stravinsky, “A Sagração da Primavera”, que foi apresentado em Paris.
  • A partir de 1912, pressente-se um rumo profético na arte de Nicholas – uma previsão da tragédia iminente da Primeira Guerra Mundial.
  • Quadros deste ciclo são “O Último Anjo”, “A Conflagração”, “A Cidade Amaldiçoada”, “Feitos Humanos”e muitos outros.
  • Em 1917, Röerich morava na Finlândia. Aí, ele pintou a série “Finlândia Heróica”.
  • Em 1920 – organizou algumas exposições em Londres que causaram grande sucesso e provocaram críticas muito favoráveis, como a de Herbert Root, diretor da Biblioteca Pública de Londres, que o chamou de “a mais forte personalidade da arte moderna”.
  • Nesse meio tempo – pintou os cenários de “Silhueta da Neve”, para o Convento Garden, e desenhou esboços para as óperas “Tzar Sultan” e “Sadko”.

“Campo de Polovetzky”, com cenários desenhados por Nicholas era, então, um clássico internacionalmente conhecido, que alcançou 500 representações.

  • Em 1920 – foi convidado pelo Diretor do Instituto de Arte de Chicago para trazer seus quadros para a América e exibi-los através do país numa longa “tournée” por vinte e nove cidades que iria durar um ano e meio.
  • Trouxe quatrocentos quadros.
  • Foi um imenso sucesso, e o artista foi recebido neste país pelos mais destacados patronos e diretores de museus com o mesmo grau de reverência e importância que ele havia recebido na Europa.
  • Nos Estados Unidos, ele fez palestras nas cidades onde foram realizadas suas exposições.
  • No Rio de Janeiro, a Sociedade Brasileira de Röerich funcionou sob a liderança da grande artista Georgina de Albuquerque.
  • Em São Paulo, a Sociedade Brasileira de Röerich teve a liderança de Anita Malfatti.
  • Em 1921 – a abertura da “tournée”, começou em Nova York, na Galeria Kingore.

Nicholas passou o verão daquele ano na ilha de Monhegan, no Maine, e pintou uma série conhecida como a “Série Oceânica”.
Nesses trabalhos, nota-se o estilo de pintura aplicado ao litoral do Maine.

  • No mesmo ano – resolveu fundar, em Nova York, um novo Instituto das Artes Unidas.

Esse Instituto, que unia todas as artes, foi sua idéia em 1910. Ele concretizou esta idéia como diretor da Escola em São Petersburgo, Rússia, quando trouxe para esta instituição cerca de 2.000 estudantes, a reputação de ter o mais adiantado sistema de educação artística.
O Instituto de Artes Unidas, na América, cresceu rapidamente. Abriram-se várias seções de diferentes especialidades: artesanato, pintura, escultura, música, dança, arte lírica e drama. Foi criada uma seção de educação estética para crianças. Estes ideais de unir as artes, desde então se propagaram pelo mundo inteiro.

  • A terceira importante Instituição fundada por Röerich na América foi a “Corona Mundi (A Coroa do Mundo)”.

Esta Instituição foi idealizada como um Centro Internacional, cuja tarefa deveria ser a de estabelecer a comunhão entre os povos por meio de cooperação cultural, isto é, ampliar a apreciação de arte, beleza e cultura entre os povos, e estabelecer em toda a corrente da vida contemporânea.
Para encorajar a compreensão mútua entre as Américas através das artes, a primeira Exposição Geral do Brasil foi aberta neste Centro Internacional durante o período de 11 a 30 de outubro de 1930, assim introduzindo nos Estados Unidos a primeira grande amostra de todos os aspectos da arte brasileira. Esta exposição era composta de noventa e três pinturas que abrangiam várias tendências de trabalhos de cinqüenta e dois artistas contemporâneos do Brasil, tais como: Di Cavalcanti, Cícero Dias, Guignard, Edson Motta, Teruz, Anita Malfatti e outros.

  • Em 17 de novembro de 1923, em Nova Iorque, as pessoas que homenagearam o talento de Röerich, fundaram o Museu Röerich. Desde os primeiros dias, o Museu começou um grande trabalho educacional: palestras, concertos e exposições. Ele possui uma belíssima coleção dos trabalhos de Röerich.
  • As instituições fundadas por Röerich nos Estados Unidos tornaram-se grandes centros de cultura e uniram-se muitos trabalhadores da arte e cultura.
  • Em 1923, encetou a 1ª de suas exposições para a Ásia com seus dois filhos: George e Svetoslav. Por cinco anos a expedição Röerich viajou por toda a Índia, Tibet, Sikkim, Mongólia, Turkestão Chinês, Altai, etc. Muitos dos quadros que se vê no museu resultaram daquela expedição.

Ele pintou com grande reverência e sucesso a montanha sagrada de Kanchenjunga.
Também estudou as antigas relíquias dos Himalaia, as religiões orientais, as culturas daqueles povos, os idiomas.
Nesse período seu filho Svetoslav estava se tornando pintor e George, o outro filho, um cientista. Eles montaram uma expedição multifacetada, durante a qual muitas coisas foram exploradas e descobertas.

  • Aonde quer que fosse, Röerich:

1º Via reforçada sua crença interna na vida  e na humanidade e no destino do homem.
2º  Encontrava antigas crenças filosóficas orientais, religiosas se assim o quiserem, ecoando seu próprio conhecimento interior.

  • Em 1929 a família voltou da expedição e se instalou no Vale Kulu, nos contrafortes dos Himalaias. Lá eles fundaram o Instituto de Pesquisas do Himalaia Urusvati, que foi organizado para estudar os resultados da exploração e descobertas feitas durante a expedição.George Röerich escreveu a respeito: “As construções do Instituto foram erguidas numa cordilheira a 6.500 pés de altitude. De 1930 a 1939 o trabalho científico e as explorações foram conduzidas sob a direção do artista, até que os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial interrompessem tais atividades”.
  • Em 1929, sob sua direção, foi criado um projeto do Pacto de Proteção dos Tesouros da Cultura. No mesmo ano, a Primeira Convenção Internacional dedicada ao Pacto Röerich e à Bandeira da Paz, símbolo criado também por Röerich, foi realizada em Bruges, na Bélgica.

O Museu publicou um folheto, e lá lemos: “O Pacto Röerich e Bandeira da Paz foi criado e promulgado por Nicholas Röerich, para a proteção dos Tesouros do Gênio Humano. Ele propõe que as instituições educacionais, artísticas, religiosas e científicas, bem assim, todos os locais de significação cultural, sejam considerados invioláveis, e respeitados por todas as nações em tempo de guerra e paz”.
A Bandeira da Paz é o símbolo do Pacto Röerich. Este grande ideal humanitário provê no campo das conquistas culturais da humanidade, a mesma cobertura que a da Cruz Vermelha, ao aliviar o sofrimento físico do homem.
Assim, no Pacto e no antigo e respeitado símbolo da Bandeira, estão simbolizadas todas as mais queridas, mais apaixonadas esperanças e visões para o homem.

  • Em 1933, realizou-se a Terceira Convenção em Washington. Representantes de 35 países participaram dela, todos aprovando o Pacto.

No dia 15 de abril de 1935 o Pacto foi assinado na Casa Branca, na presença do Presidente Franklin D. Roosevelt, pelos representantes de vinte e um Governos das Américas do Norte, Centro e Sul, inclusive o Brasil.
O Pacto de Proteção de Tesouros Culturais é necessário não somente como um regulamento oficial, mas também como uma lei educativa que, desde os primeiros dias na escola, deve imbuir a nova geração com a nobre idéia de guardar os tesouros verdadeiros da humanidade.

  • Os livros de Röerich: “Shambala”, “Altai Himalaia”, “Adamant”, “Caminho de Benção”, “Chama no Cálice”, “Reino de Luz” e outros aparecem em inglês e outras línguas. Sua arte e seus livros tiveram profunda influência em jovens e velhos, tanto nas pessoas cumuns como nas célebres.
  • Seus quadros, sem falar na beleza, no domínio da técnica e nas cores brilhantes, provocaram uma resposta profunda por causa de seus temas e do significado interior. Ao compreendê-los, adquire-se nova força que aguça o espírito e abre novos campos de realização. Um escritor disse que Röerich “leva a humanidade aos portões do céu”.
  • Em 1923, começou um novo período na arte de Röerich, quando ele foi a Índia, chefiando uma expedição artística – científica. Durante cinco anos, ele explorou o “Coração da Ásia” – Índia, Tibet, Mongólia, Sinkiang, Altai e outros lugares remotos da Ásia Central. De Kashmin a Ladak, ele seguiu a rota de caravanas mais alta do mundo, através da passagem de Karacorum ao antigo Oásis Khotan, o qual era um dos centros da cultura indo-budista, no primeiro período medieval. Foi então que ele começou a série “Sinais de Maitreya”, mostrando o mundo das lendas antigas budistas e a natureza austera das montanhas tibetanas. De lá ele foi a Altai, Mongólia e Tibet, coligindo informações sobre a filosofia e cultura asiáticas e pintando mais de 500 quadros magníficos – um verdadeiro panorama da Ásia, o que nenhum artista ocidental havia feito antes. Nestes quadros Röerich mostrou a beleza virgem, intocada, daquelas terras. Sua linguagem artística tornou-se ainda mais sonota e suas cores refletiam os objetos vividos da natureza.
  • O Himalaia, esta enorme cadeia de montanhas, revelou-se a ele em toda a sua grandeza cósmica. Ele impressionou-se particularmente pela singularidade a paisagem tibetana. Em seus quadros deste período, retrata não só a beleza, mas também a surpreendente arquitetura da região. Os mosteiros suspensos em rochedos montanhosos inacessíveis revelam a audácia e a notável segurança daqueles arquitetos antigos. Estas formas simples de arquitetura combinam-se perfeitamente com os cumes das montanhas e criam um sentimento de unidade.
  • Röerich foi amigo pessoal do Vice-Presidente dos Estados Unidos, Henry Wallace e sugeriu a ele que havia chegado o momento de usar o verso do Grande Selo norte-americano. Wallace passou a sugestão a Roosevelt, e assim, hoje, na nota de um dólar se vê o verso do selo: símbolo impressionante de uma pirâmide inacabada em cuja parte superior há um olho misterioso. As palavras Novus Ordo Seclorum, que significa Uma Nova Ordem do Mundo, aparecem abaixo  da pirâmide.
  • Nicholas, sua esposa Helena e seus filhos George e Svetoslav realizaram um projeto familiar de traduzir “A Doutrina Secreta” de H. P. Blavatsky (a fundadora da Sociedade Teosófica), publicada em Riga em 1937.

Talvez você diga que sou um
sonhador,mas eu não sou o único.
Espero que um dia você se junte
a nós e o mundo será um só
”.
John Lennon